terça-feira, 15 de novembro de 2011

Tantinho de saudade

Lá onde eu morava ainda há uma pedra muitíssimo alta e bonita demais. De lá descia uma grande quantidade de água que corria pelo imenso quintal, rolando pelo rego feito num barranco, aprisionada em certos locais pelo capricho da natureza, onde se criavam sozinhos muitos mandis e lambaris.
Havia, antes de chegar ao terreiro, uma pequena “floresta”, uma ilha de raridades verdes. A água ali era muito transparente, e então a gente ficava com duas florestas, uma em cima e outra refletida, sendo que na refletida os peixes eram passarinhos.
Havia no ar, tantos sons... nossos brinquedos também retirávamos de lá: “katitas”, “bichins”, rsrsrs...não sei os nomes “certins”.
Por entre as folhas das árvores pingavam gotas de sol pelo chão, olhando pra trás hoje, parecem quadros de Monet.
Um ribeirão onde nos molhávamos em dias de calor, um maior onde não podíamos ir por causa do perigo falado pela minha avó.
Observo agora uma nova paisagem: ribeirão perigoso ficou mansinho porque tá rasinho, o de nos molharmos, só para a planta dos pés. “Nem sombra” da florestinha, tudo acabado. A água que chegava em casa em canos feitos de bambu, agora chega em canos talvez da “Tigre”, sem peixinhos, sem brinquedos.
A pedra continua lá, imponente e dura. Espero que ninguém descubra outro uso para ela.

sábado, 30 de julho de 2011

A fazenda

De manhã ao acordar
Naquele lugar de infância
olho as serras vestidas de noiva.
É longe esse lugar...
O verde em frente amanhece molhado
o rio corre sem manifestações.
A ponte atravessa calada, as águas sujas
parece não querer ser notada.
Tudo é discreto, menos o canto dos passarinhos
acordando cedo para anunciar o dia antes da gente ver.
Em tempos chuvosos tudo tem outra roupagem.
Quisera eu estar aqui para sempre.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Zoo de defuntos

Hoje é dia 18 de julho de 2011.
“Tá lá o corpo estendido no chão.”
Não sei se estou “de frente pro crime”, mas me lembrei da justiça.
Outro jacu, durinho
na frente da casa de um vizinho,
depois de uma explosão.
Porque está aqui?
Por que não tem onde estar.
Morreu eletrocutado,
como o outro, já mencionado.
Não tem floresta pra viver.
Fui ver o corpo. Duro.
Recolhi algumas penas pra recordar como lembranças e provas concretas o acontecido.
É pena.
Haviam três.
Ouvi uma explosão.
A luz se apagou no bairro inteiro e,
no final, os passantes verificaram e contaram.
Prova: corpo morto: jacu torrado.
Voam sem rumo e morrem nos fios.
“Que vida besta meu Deus!”

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Sobre as naturezas

Eucalipto prejudica o meio ambiente?
Não!
O que prejudica o meio ambiente é o homem.
É a falta de amor, a falta de educação,
a falta de empenho dos dirigentes, a falta de honestidade e a ganância dos políticos,
a falta de qualidade no ensino, a falta de caridade.
A falta de interesse dos alunos, agravada pela falta de tempo dos pais.

Eucalipto?
É apenas uma árvore no meio de humanos daninhos.
A seca que eles causam não é provada, mas é provada a secura em que tem mergulhado a raça humana.
Se estou em sala de aula, fico perplexa diante da sobra de inconveniência.
O ensino público é uma piada.
Estão todos desmotivados, desanimados, desprovidos de respeito.
O que mata no mundo é a maldade, a omissão.

A erva de passarinho mata uma árvore?
Não.
A única coisa verdadeiramente assassina é a raça humana.
Quando se cala. Quando não ajuda. Quando se acovarda. Quando fica sobre o muro.
As leis são falhas, a justiça não existe, a violência se agiganta, estamos fracos.
Vemos todos os dias pessoas muito vazias: sem cor, sem graça, sem afeto.
Secas e sem perspectivas.
São muitas, são jovens, estão construindo mal o seu futuro.
Mas, infelizmente, nada fazemos.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Pedras que mudam de endereço


Enquanto isso lá na minha terra...
_Sabe aquelas pedra?
Continua ino
De caminhão de mudança vão partino.
Viu aqueles motorista que guia as carreta?
Ele leva até Itabira ou aonde?
_Ah comade! Sei não.
Sei quando passa caminhão,
porque começa cedo e me acorda com o ronco dos motor.
A vizinhança já até pediu quebra-mola na rua pra evitá atropelamento.
_E a ponte de cimento?
_Ela vai caindo de mansinho...
Feita pra agüentar peso pena, passarinho,
Serve de transição de um ao outro mundo.
China, Japão e daí pro resto.
_Japão! Quê isso?
Algum tipo de guloseima?
_Nada boba!
É onde moram uns índio amarelinho de zóio fechado.
_Fechado como os nosso...
_Ah tá!!! E a Monte Santo?
_Agora cê vê...monte santo mesmo...monte santo pra eles...
Pra nós é um mundo de pedra de sumi de vista que tá virano nada.
Talvez o nada fosse bom. Ó! Deixa eu calá que é mió.
Vou continuá varreno aqui meu terrero e pronto.
Cê viu a chuva dessa noite?

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Final de ano muiiiiito gostoso.

Mas enfim, colhi a água da chuva do último dia de 2010. Está num vidro de vodka por enquanto, afinal não era pra chover, não levei vidros colhedores.
Trouxe de um sítio de Carmópolis de Minas, onde passei pela segunda vez a virada de ano. Não troco por nada esse encontro anual com uma turma fantástica, então, psicóloga que sou rsrsrs, resolvi fazer um comentariozinho (sem maldade) sobre cada um deles.
Comecemos pelo chefe da tribo:
Dodô, o bravo. Bom que ele só, mas cuidado...quando contrariado fica vermelho e esbraveja igual pobre na chuva. Sua adestradora: Simoninha, uma morena de quase dois metros de altura, cujos comandos são dados calma e firmemente e obedecidos imediatamente, que lógico, prevenida que é, para não perder as rédeas da situação no futuro, já prepara uma aprendiza, Julhinha, recém chegada, uma branquinha linda e de olhos bem espertos, calma que só ela.
Leonardo, o segundo irmão de Dodô, muito educado e atencioso braços de halterofilista e cabeça de comediante. Sua namorada, Cláudia, uma super loura cheia de charme, poderosa e perigosíssima.
O segundo no comando, mas que só aparece lá pra nos visitar: Afrânio, carinhosamente chamado por nós de Faninho, terceiro irmão do chefe, muito alegre e brincalhão,"o homem mais lindo do mundo", vigiado de perto por nada mais nada menos que sua esposa Cilmara, uma mulher bem humorada cuja presença nos deixa mais seguros, que por sua vez é irmã da meiga Cibele, Belinha para os íntimos, a chef de cozinha mais requisitada pela aristocracia brasiliense. Casada com o príncipe Thiago, um rapaz muito carinhoso e exímio dançarino, cujos atributos tivemos o prazer de testemunhar. Com sua carinha de menino bom a transformação começa no terceiro ou quarto copo, mais que uma transformação é uma metamorfose.
Tem ainda o Bruno, este sim, malhado da cabeça aos pés, prestativo, alegre, gozador, namorado da Juliana, simpática, alegre e sorridente, maravilhosamente tranqüila, mãe da Gabi.
E para a alegria de todos, Arlei, o violeiro. Compositor, cantor, tradutor que faz versões inusitadas dos mais variados estilos. Esse marronzinho alegre e descontraído cuja maior qualidade é a de ficar calado fingindo escutar e aceitar o que sua namorada fala, eu naturalmente. Co-pilota. Que ofereço meus preciosos préstimos avisando pra que lado são as curvas e a que velocidade ele deve fazê-las.
Então, esta água trás as marcas do derradeiro encontro com essa turma que se juntará para me destruir assim que ler esse troço aqui, mas espero que até a próxima virada a raiva já tenha expirado rsrsrs.
Amo vocês (esta parte eu coloquei para tentar garantir minha integridade física).
Sem mágoas, beijos para todos.